terça-feira, 13 de setembro de 2011

Resgatando minha infância

Mania de explicação



Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

EXPLICAÇÃO: É uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
Ela achava o mundo do lado de fora um pouquinho complicado.
Se cada um simplificasse as coisas, o mundo poderia ser mais fácil, ela pensava.
Então tentava simplificar o mundo dentro da sua cabeça.
SIMPLIFICAR: É quando em vez de pensar em 4/8 a pessoa pensa logo em ½.
UM MEIO: Quando é escrita em números, sempre quer dizer "metade".
Mas quando é escrito em letras pode também querer dizer " um jeito".
Existem vários jeitos de entender o mundo.
Ela tentava explicar de um jeito que ele ficasse mais bonito.
Essa menina pensa que é filósofa, as pessoas falavam.
FILÓSOFO: É quem, em vez de ver televisão, prefere ficar pensando pensamentos.
De tanto que a menina explicava, as pessoas às vezes se irritavam, (IRRITAÇÃO: É um alarme de carro que dispara bem no meio do seu peito.) e terminavam indo embora, deixando a menina lá, explicando, sozinha.
SOLIDÃO: É uma ilha com saudades de barco.
SAUDADE: É quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
LEMBRANÇA: É quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo.
AUTORIZAÇÃO: É quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
POUCO: É menos da metade.
MUITO: É quando os dedos da mão não são suficientes.
DESESPERO: São dez milhões de fogareiros acesos dentro da sua cabeça.
ANGÚSTIA : É um nó muito apertado bem no meio do seu sossego.
PREOCUPAÇÃO: É uma cola que não deixa ainda, o que aconteceu sair do seu pensamento.
AINDA: É quando a vontade está no meio do caminho.
VONTADE: É um desejo que cisma que você é a casa dele.
CISMAR: É quando o desejo quer aquilo apesar de tudo.
APESAR: É uma dificuldade que não é grande o suficiente.
DIFICULDADE: É a parte que vem antes do sucesso.
SUCESSO: É quando você faz o que sabe fazer só que todo mundo percebe.
ANTES: É uma lagarta que ainda não virou borboleta.
INDECISÃO: È quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
CERTEZA: É quando a idéia cansa de procurar e pára.
INTUIÇÃO: É quando o seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
PRESSENTIMENTO: É quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
VAIDADE: É um espelho em todos os lugares ao mesmo tempo.
VERGONHA: É um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora.
INDIFERENÇA: É quando os minutos não se interessam por nada especialmente
INTERESSE: É um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
SENTIMENTO: É a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
RAIVA: É quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
TRISTEZA: É uma mão gigante que aperta o seu coração.
ALEGRIA: É um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro.
FELICIDADE : É um agora que não tem pressa nenhuma.
AMIZADE: É quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
DECEPÇÃO: É quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
DESILUSÃO: É quando anoitece em você contra a vontade do dia.
CULPA: É quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente não podia.
PERDÃO: É quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
EXEMPLO: É quando a explicação não vai direto ao assunto.
DESCULPA: É uma frase que pretende ser um beijo.
BEIJO: É um carimbo que serve pra mostrar que a gente gosta daquilo.
GOSTAR: É quando acontece uma festa de aniversário no seu peito.
AMOR: É um gostar que não diminui de um aniversário para o outro.
Não Amor é um exagero...
Também não, É um desadoro...
Um batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?

Talvez porque não fizesse sentido,
Talvez porque não houvesse explicação,
Esse negócio de amor
Ela não sabia explicar,
a menina
.




ADRIANA FALCÃO

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